terça-feira, 5 de dezembro de 2006

O código-fonte

Esta semana, eu estava revirando o acervo do Superdownloads, até que tive o prazer de encontrar um artigo escrito pelo Eliezer há algum tempo atrás. Eu me lembro que gostei muito do ponto de vista e da linha de raciocínio que ele segue neste artigo. Temo que, por tratar-se de um artigo antigo, o Superdownloads retire-o do ar em algum tempo. Por este motivo, transcrevo ele na íntegra, concendendo ao Eliezer os créditos que lhe são de direito.


O código-fonte
Por ELIEZER JOSE DE PAIVA
O fato de já ter trabalhado em diversas empresas e em diversos projetos me proporcionou uma interessante experiência, conhecer diferentes "filosofias de programação". Cada um de nós pensa de uma maneira diferente, chegamos ao mesmo lugar por caminhos diferentes, solucionamos um problema por lógicas diferentes. Filosoficamente falando, essa é a essência do ser humano.

Porém, na nossa profissão (analistas e programadores) temos que muitas vezes deixar de ser humano e pensar como a máquina, raciocinar e interpretar os dados como ela, isso reduz drasticamente o número de soluções possíveis e viáveis.
Chegar a qualquer uma dessas soluções exige um bom nível de "entrosamento" e até uma certa malandragem na hora de desenvolver o produto, para isso é extremamente necessário que se conheça as possibilidades da linguagem que se está usando.

Pode até parecer irônico dizer que me sinto um membro da antiga geração de programadores (tenho 24 anos), mas a cada dia que passa tenho contato com mais e mais pseudo-programadores, pseudo porque são profissionais (com seu mérito e suas qualificações) que dominam ferramentas e não linguagens.
O que me preocupa é que atualmente no mercado existem diversos produtos com as quais qualquer pessoa pode desenvolver uma aplicação e a cada dia novos produtos aparecem prometendo mais e mais funcionalidades.

Esse tipo de alienação contribuí apenas para a crescente queda na qualidade da prestação de serviços de informática, tais profissionais habituam-se a utilizar ferramentas sem as quais não teriam conhecimento para sequer identificar o problema, quanto mais chegar a uma solução. Tenho exemplos que beiram o absurdo, como analistas que são incapazes de criar uma tabela em um banco de dados sem o uso de uma ferramenta apropriada e programadores que desconhecem escopos e sintaxes por fazerem uso de ferramentas visuais.

Em uma situação de emergência (com as quais estamos acostumados a viver!) tudo vai depender das ferramentas instaladas no computador ou do conhecimento e da experiência do profissional? Como o próprio nome diz, ferramentas apenas auxiliam, não substituem o conhecimento. Incrivelmente, a indústria de softwares tornou o conhecimento irrelevante frente às funcionalidades das ferramentas, deixando o profissional "livre para se preocupar com o que realmente precisa".

Assim sendo, imagino eu que no futuro os médicos serão incapazes de exercer a profissão fora de um hospital e engenheiros, sem suas calculadoras, serão incapazes de executar cálculos.

Tornar os computadores cada vez mais inteligentes está nos tornando cada vez mais preguiçosos. Alunos da 5ª série que não sabem a tabuada (e nem o por quê do nome!), universitários que desconhecem trigonometria e etc. Através do código-fonte (a base do conhecimento, o básico) chega-se a um entendimento preciso sobre um problema e a uma solução mais eficaz, em qualquer área e em qualquer profissão.

A cada dia que passa torna-se mais importante e necessário um controle sobre até que ponto tais ferramentas realmente são úteis, quais que realmente acrescentam em produtividade e em qualidade e quais (acredito que 90% do total) apenas nos deixam alienados em relação à causa e a solução.


Fonte: http://superdownloads.uol.com.br/materias/codigo-fonte/242,1.html
Publicado em 10/Ago/2004

1 comentários:

Davis Peixoto disse...

Muito bom o seu blog. Quando eu crescer que ter um igual.

Brincadeiras à parte, admiro e concordo com muitos dos seus pontos de vista. Sou um programador "romântico", que se debruça sobre o teclado e escreve linha a linha o código - ou quase isso.

Ando assutado com as ferramentas usadas hoje em dia, em especial frameworks. Há muito mais atenção por parte dos novos pseudo-programadores em aprender a usar uma ferramenta de produção do que o ato de pensar e desenvolver em si.

Também apreciei muito o post sobre os "programadores vilões". Achei muito interessante e consistente a argumentação comparando softwares a veículos.

Um abraço.